Foco real

Viola Spolin, grande diretora, teórica e atriz de teatro, definiu e organizou uma série de exercícios que oferecem uma forma de aprendizado cognitiva, afetiva e psicomotora*, onde ela emprega a "instrução" (frases verbais) para manter o "jogador" (ator) atento no foco. Foco este, o objetivo do exercício (construção de ações sinceras, movimentação ou outra coisa).
Consciente de que cada habilidade deve ser construída e aperfeiçoada de forma independente, assim como um prédio têm feita sua fundação antes das paredes e as paredes antes da colocação da hidráulica, cada prática é adequadamente focada para uma atenção adequada e necessária ao objetivo desejado.
Sem um foco o exercício perde seu sentido evolutivo e se torna uma prática teatral simples, onde tudo tenta ser realizado ao mesmo tempo - voz, corpo, interação...- dificultando o aperfeiçoamento do ator.

Foco é definir um ou poucos itens a serem explorados naquele momento.
O objetivo fora do palco influencia mais do que o objetivo em cima dele. Qual é o foco do ator? Concluir uma uma faculdade através das notas oferecidas ou de uma assimilação real? Obter um registro para sua profissão ou tornar-se um ator por possuir uma habilidade real? Conseguir uma vaga em um elenco para pagar contas, a fim de mostrar que está em uma produção de destaque ou por amor à prática teatral?
A trilha de nosso caminho é composta por infinitas variáveis que nos atrasam e nos adiantam e podem ser aperfeiçoadas com um foco nos aspectos mais importantes. Quando não encontramos tempo para algo importante, foco na agenda. Temos nos sentido frustrados com nossos amigos? Foco nos relacionamentos. Foco na família quando ela se sente menosprezada.

Só que o foco deve estar sempre no nosso trabalho no palco ou com a platéia, nunca em nossa expectativa de perfeição pessoal (impossível). O ator que deseja agradar, acaba frustrando seu público. Não convence.

O único caminho para melhor agradar a todos é o foco em objetivos reais, tanto concretos quanto abstratos. Preocupar-se em fazer o que os outros esperam não é um objetivo por si só, não é real. Ter assunto para uma boa conversa, ajudar em uma reforma ou escutar de verdade são exemplos de caminhos reais. E lembre-se: conflito faz parte da realidade. Sempre existirá o antagonista.

(* fonte: introdução de Ingrid Koudela para o livro "O Jogo Teatral no Livro do Diretor" de Viola Spolin)
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Guilherme Vale
(ator)
(São Paulo, SP)